EMBORA a marca Dodge seja praticamente estranha para a grande maioria dos portugueses, certamente que já conhecem alguns dos seus produtos; pelo menos os mais cinéfilos e apreciadores das fitas americanas, pois não há perseguição policial sem que um dos seus carros apareça, ou bucólica cena rural do interior americano em que um dos seus habitantes não surja ao volante de um imponente jeep ou pick-up com a cabeça de búfalo ou bisonte estampada na dianteira...
O SEU SÍMBOLO representa, provavelmente, a melhor definição dos seus produtos: pujantes, imponentes e poderosos! Bem ao jeito do típico carro à americana. O nome deve aos fundadores ― John e Horace Dodge, irmãos nascidos em Michigan que, no princípio do século passado, decidem abandonar a produção de bicicletas para se dedicarem ao fabrico de componentes mecânicos. A empresa acabaria por trabalhar sobretudo para a Ford e ser uma das principais fornecedoras do modelo T, do qual falámos há umas semanas atrás. Daí até à produção do seu primeiro carro ― o Old Betsy, principiava a primeira Grande Guerra ―, foi um pequeno passo e o principal mote dos irmãos era a célebre frase, ainda hoje muito em voga no que respeita aos automóveis, «good value for money», ou seja, uma boa relação custo/benefício. A eles se deve também outro termo muito popular, a fiabilidade, tendo sido essa uma das primeiras frases publicitárias associadas à marca Dodge.
PARA SE TER uma ideia da robustez e qualidade dos seus primeiros carros, refira-se que o seu principal cliente tem sido, desde o início, o exército norte-americano. Relata-se mesmo, que o que poderá ter sido a primeira carga de uma cavalaria mecanizada, em 1916 contra os mexicanos, utilizava veículos da marca...
O sucesso foi rápido e a Dodge tornar-se-ia no primeiro construtor de automóveis norte-americano a abrir uma fábrica na Europa. Na altura, a produção era já bastante abrangente, desde veículos ligeiros a comerciais, pesados e modelos especiais, como ambulâncias, tendo sempre como principal cliente o exército. Com a morte dos fundadores, em 1920, e sofrendo os efeitos da recessão americana, a marca acabaria por ser vendida à Chrysler, mantendo contudo uma identidade própria.
COMO CURIOSIDADE, refira-se ainda que a Dodge foi, provavelmente, foi também o primeiro construtor a vender os seus modelos em kit. Ou seja, a partir de uma base mecânica, o consumidor optaria por um conjunto que melhor se adaptasse ao destino do veículo, fosse ele simplesmente para lazer ou para trabalho rural, comercial ou transformação em ambulância. Simplesmente engenhoso!
A cooperação com o exército americano levou as fábricas a uma intensa produção de veículos e componentes ― incluindo motores de avião ―, durante o conflito mundial dos anos 40.
Na década de 50 surgem os espectaculares modelos «rabos de peixe», geralmente em duas cores separadas por um cromado a todo o comprimento e com pormenores tão modernos como os pára-brisas abaulados e fechos de portas embutidos. Seguem-se os desportivos que marcariam toda uma geração e consagrariam a Dodge nas famosas pistas ovais americanas e, claro, a par de todos eles, a implantação das não menos famosas pick-ups com volumosos e potentes motores.
TEMOS POIS, o nome associado não apenas a carros desportivos como a eficazes modelos fora-de-estrada. O que nos leva ao Dodge Caliber, um automóvel de design não apenas arrojado como de aparência imponente à qual é difícil ficar indiferente.
E, para começar, vou já desmistificar parte do atrás afirmei; é que a aparência imponente é apenas isso... aparente, bem ao jeito americano, não é? Os seus 4,45 metros não andam longe da maioria dos familiares do segmento médio, enquanto os três centímetros a mais no metro e cinquenta de altura o colocam ao nível da generalidade dos pequenos monovolumes; já quanto à largura, bem, 1,8 metros é outra conversa... e aí reside a diferença.
SE O OLHARMOS bem de frente, vários aspectos sobressaem. À partida, uma volumosa grelha tipica das pick-ups que vemos nas tais fitas americanas, uns enormes faróis a umas abauladas cavas de roda que descaem num não menos volumoso pára-choques, harmoniosamente enquadrado na restante carroçaria. E se só isso chega para impressionar, não é tudo; lateralmente as cavas salientam-se ainda mais no conjunto, ladeando umas imponentes jantes; a linha de cintura é bastante elevada, reduzindo a superfície vidrada e imponto uma imagem deveras musculada. Na traseira imperam as linhas angulosas e bem vincadas e umas ópticas igualmente expressivas. Definitivamente, feito para impressionar... ou como se afirma no seu folheto promocional «é tudo menos fofinho»...
MESCLA de desportivo, todo-o-terreno e veículo familiar, o largura do Caliber beneficia não apenas para os ocupantes dos bancos dianteiros, mas, e sobretudo, os passageiros traseiros, que assim beneficiam de um desafogo invejável, além de que a capacidade da mala, também não parecendo, anuncia uma volumetria superior aos 500 litros em configuração normal de cinco lugares.
Entre os bancos dianteiros, para além do apoio central de braços, encontra-se uma das várias curiosidades que o Caliber oferece, um suporte com ligação a um i-pod; de resto, quem é apreciador de música, pode ainda contar com outra novidade: como opção, o «MusicGate Power», sistema áudio da Boston com 9 colunas e subwoofer, propõe dois altifalantes no interior da porta traseira que se articulam quando esta se encontra aberta, de modo a projectar o som para o exterior.
A iluminação da bagageira é também feita com uma lanterna recarregável e amovível, montada no tejadilho, e que pode ser retirada para servir como lanterna portátil...
COMO SE VÊ, não lhe faltam acessórios engraçados e inovadores. Todo o conjunto é, de resto, construído não apenas para dar nas vistas, como para proporcionar um agradável ambiente a bordo e durante a condução. O desenho do painel é simples mas possui um toque de jovialidade ao permitir que se combine com a tonalidade dos restantes revestimentos e estes podem ser em tons quentes e alegres. Por outro lado, há um toque inegavelmente desportivo no fundo branco dos instrumentos, nos ponteiros vermelhos com brilho electro-luminescente e nos aros cromados dos mostradores de algumas versões. E, «last but not least», o volumoso porta-luvas possui um compartimento refrigerado com suporte para latas ou garrafas...
Mas, para os padrões europeus, o Caliber peca na qualidade aparente dos revestimentos plásticos, onde o toque rijo e pouco suave do plástico se evidencia de forma menos positiva; ainda que, mais uma vez, seja mais aparente do que evidente, pois os ruídos parasitas em mau piso não se pressentem em excesso.
COM UMA POSIÇÃO de condução mais elevada, até pela maior altura do conjunto em relação ao solo, dispondo de regulações do banco e da coluna da direcção, o Caliber só não oferece maior visibilidade em manobra devido à menor superfície vidrada lateral. Mesmo assim não oferece grandes dificuldades de manobra, até em cidade, beneficiando por outro lado de bancos amplos e confortáveis, com bom apoio lateral e de um accionamento suave e preciso da caixa de seis velocidades. Pormenores que contribuem para a agradável experiência de o guiar e descobrir a resposta suave mas convincente do seu motor, deste regimes realmente baixos.
E POR FALAR em motor, eis mais uma das curiosidades e aparente contradição. Primeiro trata-se de um propulsor de origem VW destinado essencialmente ao mercado europeu ― o Caliber é produzido nos EUA e, por lá, ainda que cada vez menos, há uma maior apetência pela gasolina ―, segundo, a contradição está na designação «CRD» já que a alimentação não é common rail mas o tradicional «injector-bomba» do construtor germânico. Pormenores à parte, com as seis velocidades mais «curtas» devido ao maior peso em presença, o desempenho consegue ser convincentemente expedito e surpreendentemente económico para a estrutura e volumetria.
NUM CARRO com características tão marcantes e uma filosofia tão camaleónica, como analisar o seu comportamento? Desportivamente falando, a sua maior altura e a suspensão branda provocam o adornar da carroçaria em curva, mas mostra-se estável em velocidades elevadas; fora da estrada, em piso incerto, o balancear pode tornar-se desagradável após algum tempo mas, por outro lado, é menos brusco e mais confortável a amortecer as irregularidades; daí que a presença e a mais valia da tracção integral, se coloque sobretudo em países com climas mais frios, onde a neve e o gelo marcam presença mais constante e acentuada. Até porque, como familiar, o Caliber consegue ser surpreendentemente confortável, versátil e, definitivamente, tem uma personalidade que não deixa ninguém indiferente.
PREÇO, desde 28 000 euros MOTOR, 1968 cc, 140 cv às 4000 rpm, 310 Nm às 2500 rpm, turbo com geometria variável, injector bomba electrónico PRESTAÇÕES, 196 km/h CONSUMOS, 7,9/5,1/6,1 l (cidade/estrada/misto) EMISSÕES CO2, 161 g/km
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BEM PENSADO! Este Caliber concilia o contributo de um conhecido construtor japonês com um palmarés e uma fama invejáveis em modelos de todo-o-terreno para o desenvolvimento da plataforma, e vai buscar um dos melhores e mais modernos motores diesel que «foge» à crescente tendência da injecção common-rail, para se propor ao consumidor a um preço base abaixo dos 30 mil euros! O que é notável, até porque a versão mais acessível não está assim tão despida de equipamento, possuindo o essencial de conforto e segurança, como os múltiplos airbags, ABS com assistência a travagem de emergência, controlo electrónico de estabilidade, ar condicionado, rádio/CD, etc, etc, diferenciando-se para a mais equipada sobretudo pela presença das jantes em liga e algumas aplicações de estilo, pelos faróis de nevoeiro e alarme. Da lista de opcionais constam os bancos em pele ou o sistema de som referido no texto principal.
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