PARA A GENERALIDADE dos fabricantes automóveis, uma presença condigna no segmento médio é extremamente importante para poder vingar no mercado europeu, não apenas em termos de vendas, mas igualmente na visibilidade e na consolidação de uma marca jovem. Mais a mais, quando se trata de um construtor proveniente de um país com não muitas tradições no sector, à procura do seu espaço e de um fio condutor para a gama que se ajuste aos gostos do consumidor ocidental, etc, etc, e todos já sabemos como, em países como Portugal, um automóvel é ainda uma questão de estatuto e quanto mais sonante o nome e a marca forem...
EM PARTE, por isso, a classe é tradicionalmente dominada, em termos de vendas, por modelos de origem europeia. Contudo, nunca como agora, esteve tão diversificada e competitiva, com ofertas provenientes, não apenas de modelos de mercados emergentes, como com propostas de marcas tradicionalmente mais exclusivas, casos, por exemplo, da Mercedes ou a BMW.
Se falarmos no nome Kia, a associação ao SUV Sportage ou ao monovolume Carnival é quase imediata, mas a verdade é que o construtor dispõe actualmente em Portugal, de uma gama muito mais completa e abrangente. No caso do Cerato, que veio «substituir» o Shuma, trata-se de um daqueles automóveis que, ao contrário do que se passava com o seu antecessor, se torna numa grata surpresa, sem ser necessário apontar o seu preço como o principal motivo de atracção. Ainda que continue a ser um deles...
O KIA CERATO não é novo, trata-se de um modelo de 2004 que chegou ao mercado português na Primavera do ano seguinte. No entanto, justifica-se que dele se volte a falar, pois bem mais recentemente estreou, entre as viaturas do grupo, um novo motor diesel cujo desempenho consegue ser tão surpreendente quanto o resto do conjunto.
A Kia faz parte de um dos maiores grupos construtores do mundo — a Hyundai —, partilhando com os modelos desta muitos componentes; na Europa, tem cabido à Kia a primazia da estreia dos novos motores diesel — desde o pequeno 1,1 l no Picanto, o 1.5 CRdi de 4 cilindros e agora este 1.6 concebido a partir do anteriormente referido — e é preciso referir que se tratam de motores inteiramente desenvolvidos pelos coreanos, ao contrário dos anteriores 2.0 CRDi e 1.5 CRDi de três cilindros. O que é notável se pensarmos o tempo que, por exemplo, muitos construtores japoneses demoraram a conceber os seus próprios motores a gasóleo...
VOLTANDO AO CERATO em si, torna-se necessário entender a política de apresentação de um novo modelo para este segmento, da parte de uma marca cuja expressão de vendas e presença ainda não é muito significativa, e num mercado tão exigente quanto, em muitos aspectos, conservador, como é o caso do europeu. Em termos de linhas, um construtor ou envereda por oferecer um modelo sem grandes rasgos estilísticos mas que também não corra o risco de desagradar e que, desse modo, não se destacando acabe por gerar alguma simpatia, ou aposta de facto numa concepção fortemente personalizada, mas que tanto pode ser um sucesso, cative e gere uma forte identificação com a marca, como redundar num verdadeiro fiasco, independentemente do valor do carro em si.
Ora, neste caso, estamos perante uma via mais tradicional. As linhas do carro não são bonitas e apaixonantes, mas também não se podem considerar feias; aqui e ali ainda há alguns laivos orientais, mas definitivamente diluem-se no conjunto. Há pequenos pormenores que não se entendem — a antena eléctrica nesta versão de quatro portas é uma delas, mas parece que os coreanos acham imensa piada ao mecanismo... —, contudo não há realmente nenhum aspecto que pareça menos bem conseguido. O que também não significa que arrebate corações ao primeiro olhar...
NO ENTANTO... No entanto, depois de o conduzir durante uns dias, é difícil não deixar de gostar. Até as linhas parecem mais modernas e ocidentais — a cor escura também ajudava no caso —, e até mesmo a qualidade de construção e dos materiais interiores, graças a uma excepcional insonorização do interior e à solidez das fixações, parecem bem melhores do que à primeira vista sugeriam. É que, se na parte superior do tablier podemos contar com revestimentos suaves, outros aparentam ser mais frágeis... aparentam...
Para esta boa impressão, também muito contribui uma posição de condução deveras agradável. É certo que o modelo ensaiado dispunha de uma série de extras que lhe melhoravam os índices de conforto, como os estofos em pele. Mas o que realmente satisfaz é que, tanto no aspecto da condução, muito prática e intuitiva, como em termos de comodidade, seja pela habitabilidade ou pelo equilíbrio de reacções da suspensão, estamos perante uma clara evolução e aproximação aos padrões europeus.
O espaço interior corresponde ao que se espera de um familiar e, na traseira, até surpreende no que disponibiliza para as pernas. Existem vários locais para arrumar pequenos objectos e, já quanto à mala, a sua capacidade é aceitável com um pneu de reserva igual aos restantes sob o piso, embora o acesso seja algo estreito e marquem presença as sempre incómodas dobradiças em arco a sustentar a respectiva tampa.
CLARO que o preço não deixa de ser um argumento de peso, num diesel familiar que, com este motor, tem preços de entrada por volta dos 22 mil euros. Para mais, o rendimento da unidade motriz é de facto surpreendente! Já o é no propulsor 1.5 de quatro cilindros que permanece na gama, mas as alterações feitas sobre este bloco motriz (maior diâmetro dos cilindros e maior eficácia na gestão do sistema de alimentação), permitiram não só um acréscimo de potência, como, e sobretudo, um incremento de binário que estabelece a diferença. Em conjunto com uma caixa de cinco velocidades particularmente bem escalonada e felizmente bastante precisa, esta versão do Cerato oferece uma agilidade notável e consumos aceitáveis para o que proporciona. Com um desempenho muito elástico em cidade, fruto de um bom binário em baixos regimes, mas também da boa acção do turbo com intercooler, convincente e enérgico quando enfrenta percursos mais longos, comporta-se, em termos dinâmicos, essencialmente como um familiar; ou seja, mais preocupado com o conforto do que com grandes rasgos desportivos, com uma ligeira tendência para adornar em curva e uma direcção que tende a perder precisão em velocidades elevadas, mas perfeitamente controlável e sem inspirar sobressaltos na sua verdadeira função.
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PREÇO, 22150 euros MOTOR, 1582 cc, 115 cv às 4000 rpm. 260 Nm às 2000 rpm, 16 V, Common Rail, injecção directa PRESTAÇÔES, 186 km/h CONSUMOS, 6,5/4,0/4,9 l (cidade/estrada/misto)
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DISPONÍVEL em versões de quatro e cinco portas, o CERATO oferece os dois motores diesel e dois níveis de equipamento. O mais básico - LX - contém os principais itens de segurança e conforto, deixando, por mais 1500 euros, os airbags laterais e de cortina, o ar condicionado automático, jantes em liga, faróis de nevoeiro, fecho centralizado com telecomando, etc, do pack EX. Existe ainda uma versão comercial de dois lugares, apenas na configuração de 5 portas e com motor 1.5 CRDi, por cerca de 18 mil euros.
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