Ambrósio!...
«PAI! TEM chocolates lá dentro?». Foi uma das minhas filhas quem me deu ideia para começar o artigo desta semana. A outra logo aproveitou para insistir em tratar-me por Ambrósio, esperar que lhe abrisse a porta do carro para ela entrar e sair e — felizmente ainda não estamos no Carnaval —, pouco faltou para que ambas pedissem que vestisse fato e colocasse boné de motorista a preceito, de forma a que o cenário ficasse completo. Sem esquecer, obviamente, o Ferrero Roché!...
E POR QUÊ? Bem... basta olhar para as imagens para perceber. Vê-lo por aí a circular já é mais difícil. Afinal trata-se de um carro de uma marca americana ainda não muito divulgada em Portugal, com um preço que supera os doze mil contos falando em escudos e que só recentemente passou a dispor de um motor a gasóleo que, do mal o menos, sempre é um pouco mais económico do que as restantes versões a gasolina.
Ser americano já diz grande parte do carro: é grande! Mas não só; têm umas formas altivas, uma frente imponente, uma linha de cintura elevada que diminui a superfície vidrada (mais fumada nos vidros traseiros) e umas jantes de 18 polegadas, que, tudo junto, lhe conferem uma pose aristocrática, entre o distinto e o respeitoso. Não voltar o pescoço à sua passagem é que é impossível...
E SE POR FORA impera a imponência devida pelas dimensões, por dentro, no habitáculo... nem por isso! É que para os cerca de cinco metros de comprimento desta versão carrinha — um recorde entre os familiares, se não me engano —, e pouco menos de um e noventa de largura, esperava-se uma melhor habitabilidade a nível do espaço das pernas para os ocupantes traseiros e mesmo a capacidade da mala não impressiona. Anunciados são mais de 500 litros de capacidade (!), mas o plano de carga é elevado (devido a uma «caixa» colocada sobre o pneu de reserva — fino, meramente de emergência — e bateria, que serve para acondicionar pequenos objectos, ou outros, molhados ou mesmo sujos, protegendo desse modo o restante revestimento da mala) e não é completamente esquadrada. Profunda, portanto...
Já em termos de largura, nada a apontar. O mesmo em relação à estrutura dos bancos, realmente confortáveis mas algo compridos (daí a sensação de menor espaço traseiro), bem como à posição de condução, com o respectivo banco e coluna da direcção a permitirem múltiplas regulações, tal como o conjunto de pedais.
O 300C respeita padrões europeus de qualidade, com materiais que não destoam pela negativa. Mesmo sem impressionar nesse capítulo, os assentos em pele disponíveis no modelo ensaiado e os revestimentos suaves do tablier contribuem para alguma nobreza, a que se junta um já mais discutível pormenor em tom de madeira no volante. Ambrósio, oblige...
E não, não tem frigorífico, mas a caixa de bombons tanto pode ir no porta-luvas ou, se for maior, num espaço mais amplo sob o apoio central de braços. Há porta-copos, há um pequeno espaço que tanto pode servir para chaves como para moedas e pouco mais, até porque este não é exactamente um modelo familiar para passeios com espírito de piquenique... Passeios, sim, mas com o requinte que um modelo desta grandeza sugere, «devorando» estrada — e aqui vem à ideia as longas «route» que ligam os estados americanos —, com o conforto que proporciona um veículo de caixa automática, muito suave mas perceptível nas trocas de velocidade, controlo de velocidade de cruzeiro e excelente insonorização.
Já o conforto é bom, muito por obra e graça dos excelentes bancos que apenas poderiam ser melhorados no apoio lombar. É fácil encontrar a melhor posição graças aos múltiplos acertos, como referi — do banco, do volante e até dos pedais —, mas a suspensão, algo branda em demasia, não consegue «disfarçar» o mau piso, nem permite uma toada mais dinâmica em percursos sinuosos. Mas, também, com esta largura não se fazem grandes ousadias em curvas, já que em recta a estabilidade é uma certeza, não apenas porque o peso do conjunto assim o impõe, mas a própria forma da carroçaria, mesmo com uma frente tão elevada, também ajuda.
UMA DAS RAZÕES do elevado preço desta versão em Portugal, reside na cilindrada do motor de 3,0l. A alternativa é um a gasolina de 2,7 l, mas, o que se poupa à partida, esvai-se nos consumos e no maior preço deste combustível. Por isso, e até porque para o segmento em que se insere e com estas dimensões o Chrysler 300C não tem rival em termos de preço (os concorrentes de marcas de maior prestígio — como a BMW, Mercedes ou Audi — ou até outras mais generalistas como a VW ou a Peugeot, por exemplo, com idênticas cilindradas, custam mais), esta versão a gasóleo é a mais interessante.
Ora como sabemos que os americanos não têm tradição neste género de motores, encontramos a sua origem na europeia Mercedes, à qual o construtor americano se associou há alguns anos. Não apenas o motor, como grande parte da própria estrutura sobre a qual assenta o 300C, bem como alguns pormenores e acessórios interiores. O que lhe confere uma garantia de qualidade praticamente inquestionável.
Já quanto ao motor, que surge associado a uma caixa automática de cinco velocidades com possibilidade de comando sequencial, que não se recomenda, a única nota menos positiva, vai para os consumos urbanos. Mas também não se esperavam milagres de um V6 colocado perante o esforço de mover quase duas toneladas. Em estrada esses valores atenuam, mas tudo depende do peso exercido sobre o pedal do acelerador.
Já em termos de prestações, estão à altura do que se espera. Uma velocidade máxima realmente elevada e, sobretudo, recuperações convictas, com uma rápida percepção e resposta da caixa de velocidades automática. Com um binário destes...
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PREÇO, desde 60 450 euros MOTOR, 2987 cc, 218 cv às 4000 rpm, 16 V, 510 Nm das 1600 às 2800 rpm, injecção common-rail, turbo de geometria variável e intercooler PRESTAÇÔES, 227 km/h CONSUMOS, 10,9/6,8/8,3 l (cidade/estrada/misto) EMISSÕES POLUENTES 291 g/km de CO2
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HÁ, CLARO, alternativas a gasolina, mas que nem sequer merecem grande importância no nosso mercado. Há igualmente uma versão berlina de quatro portas. Mas fiquemo-nos pela versão ensaiada. O equipamento base inclui, entre outros, duplo airbag, airbags laterais e de cortina, ABS com assistência a travagens de emergência, alarme, controle de tracção, controlo de estabilidade, jantes em liga 18", suspensão auto-nivelante, faróis de nevoeiro, faróis de Xenón, ar condicionado automático, vidros e retrovisores eléctricos, volante em couro c/ comandos áudio/telefone e GPS, bancos dianteiros e volante com regulações eléctricas, computador de bordo, cruise control, fecho centralizado com telecomando, limpa vidros automático, sensores de estacionamento traseiros e rádio/6 CD's/MP3 c/ sistema de navegação. O pack Premium, que acresce 3200 euros, inclui os estofos em couro com aquecimento, acabamentos em madeira, ajuste de pedais e o organizador da bagageira.
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