Citroën C4 Picasso 1.6 HDi


Uma ruptura conservadora... ou não!

QUANDO A CITROEN lançou o anterior Picasso não inventou o conceito, não trouxe grandes novidades ao segmento (ainda que o carrinho das compras tenha o seu quê...), mas, mesmo assim, constituiu uma lufada de ar fresco entre os monovolumes médios. Quanto mais não fosse pelas linhas, até porque isto do «ou-se-gosta-ou-não-se-gosta» acaba quase sempre por gerar alguma indiferença à força do hábito de ver tantos modelos a circular nas estradas. E se os há! Um preço muito atraente aliado a uma motorização diesel de 1,6 l bastante económica, bons índices de habitabilidade e uma modularidade interior suficientes, fizeram com que o Xsara Picasso provocasse sérias dores de cabeça à concorrência...

ENTRETANTO a marca francesa lançou o C4 para substituir o Xsara e, naturalmente, há a renovação de toda a gama. E aqui aconteceu uma coisa engraçada: enquanto o Xsara berlina era um carro de linhas mais tradicionais e o monovolume ao qual deu origem bem mais «ousado», com o C4 passa-se o inverso, já que o monovolume agora ensaiado remete para formas bem mais simples e consensuais, ainda que sem perder o necessário toque de originalidade que o distingue dos demais.

ANTES DE MAIS irei começar por abordar as dimensões do modelo, um dos pontos que me sugere mais controvérsia. É que o surgimento de monovolumes no segmento médio, para além de economicamente mais acessíveis, deveu-se à necessidade de um carro com maior versatilidade do que uma carrinha, por exemplo, mas que, simultâneamente, pelas dimensões, fosse prático de conduzir nas cidades. A forma mais elevada da carroçaria, aliás, têm a ver com um melhor aproveitamento do espaço, permitindo frentes mais curtas para albergar o conjunto mecânico — parte do qual, geralmente, «entra» pela zona do habitáculo —, posição de condução mais elevada e com melhor visibilidade e, claro está, vários pequenos espaços e outras funcionalidades por todo o habitáculo.
E assim foi; depois a Opel lançou o Zafira de 7 lugares, com dois escamoteáveis, e veio baralhar tudo; hoje o C4 Picasso oferece solução semelhante, mas situa-se, em termos de dimensões, a escasso 1 dedo de comprimento do monovolume construído em Palmela, consegue ser maior do que o Espace e é mais largo do que a maioria dos monovolumes de segmento superior. Uma desses excepções é justamente o Citroën C8, o monovolume de topo da marca francesa, o que ajuda a esbater as diferenças dentro «de portas».

NÃO É POR ISSO surpresa nenhuma falarmos da excelente habitabilidade do modelo. Nem se estranha que, pelo menos por enquanto, o Xsara Picasso com os seus 5 lugares e menos trinta centímetros de comprimento se mantenha em comercialização, mesmo com uma diferença de preços não muito significativa face às características diversas entre um e outro. Pelo menos até à chegada de uma versão mais curta, adoptando então esta de sete lugares o nome de Grand Picasso, eventualmente.
De facto, o C4 Picasso até pode seguir por uma aparente arquitectura exterior bem mais conservadora na sua forma global, mas, interiormente, nas soluções que apresenta, é deveras inovador e criativo. E não me refiro à faculdade dos dois bancos suplementares que, recolhidos, mantêm o piso plano da mala — queira-se ou não vai-se vulgarizando —, ou até mesmo aos espaços sob os pés dos ocupantes que nem são assim tantos como, por exemplo, o Renault Scénic, até porque um dos dois traseiros é ocupado pelo macaco elevatório. Antes pelos diversos «estratagemas» de simplificação da condução e do conforto, como a forma de rebatimento dos bancos laterais para um excelente acesso aos lugares suplementares; a maneira como estes se dobram e conjugam para ampliar o espaço de carga mantendo-o plano; os verdadeiros e confortáveis três lugares com poltronas individuais da fila central; a colocação/recolha deveras simplificada dos dois assentos da terceira fila, cujos ocupantes beneficiam de quotas interessantes de espaço; e outros que a tempo irei referindo.
A POSIÇÃO DE CONDUÇÃO do C4 Picasso é a normal de um monovolume — elevada, com bom domínio em termos de visibilidade e deveras confortável em percursos mais longos —, com algumas pequenas variações. A começar, o vidro dianteiro estende-se até uma zona elevada do tejadilho, com um pequeno painel plástico corrediço, agregado ao pára-sol, para ajudar a gerir a luminosidade. Lateralmente à zona do tablier, entre os pilares, dois vidros com alguma dimensão, ampliam o campo de visão e tornam-se importantes auxiliares em situação de manobra ou cruzamentos, o «travão de mão» é substituído por um botão ao centro do tablier que «destrava» automaticamente quando se começa a circular com uma mudança engrenada, auto-acciona-se quando se imobiliza o veículo e ajuda o arranque em plano inclinado ao mantê-lo, até dois segundos parado, dando tempo ao condutor para transitar entre o pedal do travão e o do acelerador.
Mas em termos de inovações não se fica por aqui, e um dos sistemas até pode vir a criar escola: esta geração Picasso oferece uma zona central praticamente «limpa» de comandos, transferindo parte deles para a zona superior fixa do volante (que roda sobre esse painel de botões, tal como as restantes versões C4), mas a maior novidade é a colocação dos de climatização — automática e de funcionamento electrónico no caso do modelo ensaiado — à esquerda do condutor os principais, à direita do «pendura» os de controlo individual.

IMPORTA reter que este C4 Picasso não apenas proporciona níveis de habitabilidade, soluções de modularidade e acesso interessantes, como se situa entre os mais agradáveis e cómodos de conduzir. É verdade que as dimensões exteriores até nem são comedidas, mas a excelente visibilidade facilita a sua condução em cidade ou até em zonas mais estreitas.
Por outro lado, o comportamento é realmente admirável. Tendo presente de que se trata de uma viatura com o centro da gravidade elevado, o adorno em curva não é elevado e o conjunto mantém a trajectória de forma convicta e inspiradora de confiança. E a suspensão até acusa alguma natural brandura perante as irregularidades...
Em estrada aberta e com alguma velocidade, fora algum ruído provocado pela deslocação do vento, nota positiva para a estabilidade e para a insonorização.
Do mesmo modo, os 110 cv do propulsor diesel de 1,6 l, não parecem acusar o maior peso desta nova geração. A caixa manual de cinco velocidades mostra-se bem escalonada, com o veículo em carga pressente-se uma natural maior limitação nos baixos regimes e aquando as recuperações, mas a notícia sempre muito agradável é que não é difícil manter os consumos médios abaixo dos seis litros.

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PREÇO, desde 27 250 euros MOTOR, 1560 cc, 110 cv às 4000 rpm, 16 V, 240 Nm (260 Nm com overboast) às 1750 rpm, turbodiesel, common-rail, filtro de partículas PRESTAÇÔES, 180 km/h CONSUMOS, 7,3/5,1/5,9 l (cidade/estrada/misto) EMISSÕES POLUENTES 155 g/km de CO2


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A LISTA DE TECNOLOGIA possível de o equipar pode tornar-se exaustiva - sistema de medição de espaço necessário para estacionar, sensores de estacionamento, sistema AFIL de detecção da transposição involuntária de faixas em estrada, faróis direccionais e detector da pressão dos pneus, por exemplo - uns já bem conhecidos, outros novidade dentro da sua classe. Dependendo do nível de equipamento e do tamanho da bolsa de cada um, o C4 Picasso pode ainda ser personalizado com tecto de abrir panorâmico e estore eléctrico, packs áudio, vídeo e de navegação e uma panóplia de outros extras, como uma lanterna recarregável no espaço da mala.
Pode ainda dispor da caixa de velocidades manual pilotada de seis velocidades, com patilhas de mudança de velocidade no volante e de um selector de modo na coluna de direcção.
Quanto a motores, encontramos para já apenas duas propostas a gasóleo: o ensaiado e o 2.0 HDi de 138 cv.
O equipamento de série da versão base é completo mas apenas em termos de segurança, contemplando ABS com assistência à travagem de emergência, ESP (controlo de estabilidade) e seis airbags mais um destinado aos joelhos condutor, ficando o restante pelo limitador e regulador de velocidade, travão de estacionamento eléctrico automático, volante regulável em altura e profundidade, vidros dianteiros e retrovisores eléctricos, os bancos da terceira fila e pouco mais...
A versão confort, certamente a mais procurada, já se coloca ligeiramente acima dos 30 mil euros.
Resultado nos testes EuroNcap (2006):

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