Puro-sangue temperamental!
O SISTEMA FISCAL português tem destas coisas engraçadas: enquanto o preço base do Wrangler de passageiros, com 4 lugares, quase alcança os 60 mil euros, esta versão pick up com dois lugares e rede interior a separar os lugares dianteiros do espaço de carga, fica-se por menos de metade desse valor. Tudo devido ao facto de ser homologado como veículo comercial, de trabalho, sofrendo por isso menos impostos sobre o seu valor base. Uma forma de tornar mais acessível este mítico modelo americano, capaz de garantir muito divertimento a quem o conduz... e não só!
DEPOIS, já em estrada, dois factos: a fraca insonorização, não apenas face ao ruído do motor como pela deslocação do vento na capota em lona que consegue sobrepor-se ao primeiro; e a sensibilidade do conjunto face ao piso molhado, uma sensação que a a altura do chassis e o comportamento da suspensão acentuam, e que me levou a moderar a força sobre o acelerador. Porque este carro acelera! 177 cv, um binário impressionante e uma caixa de seis velocidades que tira excelente partido das capacidades do bloco diesel de origem italiana. E, em condições normais, tracção traseira, numa combinação explosiva em estrada, principalmente quando ela está molhada...
E só a boa constituição dos bancos impede maior desconforto face a uma suspensão firme e sensível às irregularidades do piso.
PARECE muito inconveniente num carro, mais a mais num com este preço! Que interiormente não enche a vista: os acabamentos são simples e há demasiado plástico à vista, num interior facilmente lavável após de um uso intenso, prático e pouco preocupado. E há pequenos espaços em número suficiente, além de uma boa capacidade de carga, potenciada pela ausência de assentos traseiros.
E não, não é um carro familiar. Não é como um SUV para passear ao fim de semana por aquela estrada que fica junto ao mar ou por um caminho de terra batida nalguma tímida incursão rural. Este carro é para passear sim, mas para «ir lá», aos locais onde a grande maioria não consegue alcançar. Respeitando a natureza e a propriedade individual, descobrir sítios que nem suspeitávamos existir. Trilhar caminhos instáveis, acidentados, ultrapassar obstáculos e encarar declives pronunciados com autoridade e alguma sobranceria. As condições estão lá. E, ao Wrangler, capacidades não lhe faltam. Tem altura suficiente, uma excelente capacidade de manobra porque não é muito grande, uma desenvoltura mecânica impressionante e um conjunto de transmissão ao velho estilo de quando os jipes ainda não se chamavam SUVs. Ou seja, é preciso levar uma segunda alavanca a engatar-lhe a tracção total ou as conhecidas como «reduzidas». É um puro sangue. E qual é o puro sangue que não tem direito a ser temperamental, sobretudo num ambiente que não lhe é favorável?
É POR ISSO que os cavalos gostam pouco de cidade. Se tivesse um carro destes chamava-lhe Mustang, como a famosa raça de cavalos americanos. Só porque o Wrangler provêm de lá, em linhagem quase pura que descende do mítico Willys que deu tão boa conta de si na II Guerra Mundial. O «quase» deve-se ao facto de se ter rendido, aqui e ali, à tecnologia. A de segurança passiva, necessária e tranquilizante, como os airbags. Outra, ainda de segurança, mas activa, igualmente necessária para uma travagem mais segura, para lhe controlar a estabilidade (o ESP tem 3 modos de actuação: ligado, fora de estrada ou parcialmente ligado) ou dosear-lhe a tracção. Dois equipamentos sensíveis que reagem de forma diferente consoante as condições do piso. Com ele molhado, em acção permanente, pouco tranquila e algo vaga, com a direcção assistida a não conseguir transmitir grande confiança. Já em estrada seca, o Wrangler adquire maior estabilidade direccional, e essa postura já permite tirar partido das potencialidades do motor.
A TENTAÇÃO de fazer do Wrangler como que um brinquedo para a descoberta de trajectos mais complicados, é muita. Ele não se faz rogado, mesmo quando a unidade ensaiada apresenta pneus que se podem considerar «mistos». Talvez por isso o fugir da frente ou o escorregar da traseira quando a vontade é a de acelerar perante um percurso mais enlameado. Gosta de ser provocado e parece divertir-se tanto quanto o gozo que proporciona a quem lhe tem o volante nas mãos. Ou mesmo que não o tenha e se sente ao lado. Aí quase que apetece pormo-nos de pé e agarrar a estrutura tubular capaz de se desnudar num processo que, diga-se, tem muito pouco de prático.
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PREÇO, desde 26 000 euros MOTOR, 2777 cc, 177 cv às 3800 rpm, 410 Nm das 2000 às 2600 rpm, 4 cil./16 V, injecção directa/turbo VGT CONSUMOS, 12,7/8,3/9,9 l (cidade/estrada/misto) EMISSÕES CO2, 263 g/km (combinado)
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EXISTE ainda uma versão mais longa de quatro portas, também pick up. De passageiros há apenas com duas portas e custa 60000 euros. Existe a possibilidade de uma caixa automática (americano, não é?!) e, acessoriamente, hardtop a substituir a cobertura em lona, sistema de navegação e protecções acessórias para a condução fora de estrada. A versão Sport ensaiada, conta com airbags frontais, ABS com sistema de travagem assistida, ESP (Controlo de estabilidade electrónico), bloqueio de diferencial, controlo de tracção, faróis de nevoeiro, vidros eléctricos, ar condicionado, cruise control, jantes em alumínio de 17" e rádio com leitor de CD's, DVD e MP3.
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