SE DEUS criou a mulher no famoso filme que, em 1956, lançou a actriz francesa Brigitte Bardot, Karl Benz quase criou o automóvel. E a que hoje é mais conhecida como Mercedes foi também, ao longo do século XX, a responsável pela introdução e desenvolvimento de algumas invenções mecânicas importantes, nomeadamente os turbo-compressores e outros avanços em motorizações a gasóleo, bem como na área da segurança.
Reconhecida pela qualidade e fiabilidade dos seus produtos, acabaria, contudo, por lhe ser apontado algum conservadorismo das linhas e até mesmo a identificação dos seus produtos com sectores específicos de consumidores. Uma ideia que tem vindo a contrariar, democratizando a gama com modelos direccionadas a segmentos inferiores e uma bem conseguida renovação estilística, de que é exemplo este recente «Classe C».
QUANDO, há uns meses, analisei aqui a versão de quatro portas, a beleza, modernidade e dinamismo das suas linhas foram características que destaquei. Enquanto marca de prestígio, é normal referir a solidez e rigor de construção; mas a jovialidade e desportivismo da sua silhueta - ainda mais evidente nesta versão carrinha -, permite à Mercedes não apenas jogar de igual com duas concorrentes directas neste segmento - BMW e Audi, não por acaso também de origem alemã - como enfrentar a ameaça de outros construtores, nomeadamente japoneses, em mercados importantes como o da América do Norte.
COM O FITO de captar um consumidor mais jovem e dinâmico, sem abandonar a aura de classe que envolve qualquer modelo que ostente uma estrela que o distingue de marcas mais generalistas, a C Station contém pormenores curiosos e mesmo de cariz mais popular. Pela sua configuração, importa começar por analisar-lhe a mala. Não crescendo muito face à capacidade da da berlina (485 l em vez de 475), tem, naturalmente, outra versatilidade face à abertura ampla do portão traseiro. Esta abertura tem um modo inteiramente eléctrico, subindo e descendo de forma automática através de comandos no lugar do condutor, na chave ou na própria tampa da mala. Bem esquadrada, revestida com alcatifa de qualidade, dispõe de cobertura retrátil com funcionamento bastante preciso. Entre a roda suplente e a tampa que lhe serve de piso, existem pequenos compartimentos e uma caixa plástica desmontável para acondicionar melhor objectos de menor porte.
A CAPACIDADE da bagageira não impressiona. O rebatimento assimétrico do encosto dos bancos amplia-a significativamente, possibilitando uma superfície de carga inteiramente plana. Dispõe ainda de redes e pequenos suportes laterais retráteis.
O espaço disponível para as pernas dos ocupantes dos lugares traseiros não sofre grandes variações face ao «quatro portas». Como em termos de comprimento nem sequer é muito maior, o maior desafogo que se sente na carrinha advém, principalmente, da ligeira maior altura do conjunto e, principalmente, da ausência de inclinação do vidro traseiro.
Beneficiando da boa ergonomia dos bancos, os ocupantes dianteiros, nomeadamente o condutor, viajam com bastante conforto. O condutor tem um acesso fácil aos comandos e o sistema de navegação disponível no modelo ensaiado, não sendo dos mais vistosos, tem um funcionamento muito intuitivo.
O DESENHO do tablier do C é prático embora pouco criativo e mesmo algo sóbrio face à juventude do exterior. Apontar a qualidade dos materiais é redutor quando se fala de um Mercedes; contudo, importa destacar a excelente insonorização do seu interior face ao ruído de funcionamento do bloco diesel. No capítulo da funcionalidade, destaco apenas, pela negativa, a colocação do manípulo que comanda o cruise control e o limitador de velocidade, facilmente confundível com o do «pisca». Crescendo muito pouco em comprimento, a carrinha mantém o aspecto compacto do «4 portas», favorecendo-lhe as manobras de estacionamento (raio de viragem inferior a 11 metros) e a condução em cidade. Dispõe ainda de sensores nos pára choques, à frente e no traseiro.
ESTE MODELO é, sobretudo, um familiar bastante competente e muito despachado. Rapidez que a potência do seu motor lhe permite e pelo excelente binário, muito bem aproveitado pela caixa manual de seis velocidades correctamente escalonadas. Factores que influenciam directamente na diminuição dos consumos e consequentes emissões poluentes. Embora ligeiramente mais pesada e com um coeficiente aerodinâmico menos favorável, a Mercedes C Station não eleva muito as médias face à limousine. Em circuito misto e «sem olhar a despesas», facilmente se obtém valores abaixo dos 6,5 l.
Ensaiada com o motor mais potente - uma outra variante, o C 200 CDI, debita 136 cv e tem menor binário -, entusiasma a acelerar e, sobretudo, pela disponibilidade e elasticidade que oferece nas recuperações. A estabilidade do conjunto transmite segurança a quem lhe pega no volante, enquanto a ausência de ruídos aerodinâmicos ou de rolamento contribuem para que não se lhe pressinta a velocidade real. Mas não só: o sistema «agility control» confere à suspensão um amortecimento variável em função do estado do piso, da velocidade e do tipo de condução, o que contribui, não apenas para o conforto, como para a sobranceria com que enfrenta percursos mais sinuosos.
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PREÇO, desde 48000 euros MOTOR, 2148 cc, 170 cv às 3800 rpm, 400 Nm às 2000 rpm, 16 válvulas common rail, turbo com geometria variável, intercooler PRESTAÇÕES, 224 km/h CONSUMOS, 6,1/ 5,0/ 8,1 l (médio/extra-urbano/urbano) EMISSÕES POLUENTES,159 g/km de CO2
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HÁ MUITAS hipóteses de escolha dentro da gama C. Desde o SportCoupé à Limousine, passando por esta Station, motores a gasolina 1.8 até V6 de 3,5 l e, claro, os apreciados diesel com potências a partir de 136 cv.
No caso concreto do 220 CDI há três níveis de equipamento a considerar, desde o mais básico Classic até ao mais exclusivo e desportivo Avantgarde. Privilegiando bastante a segurança — de resto uma das preocupações maiores na concepção desta nova geração C —, todos os modelos encontram-se equipados com múltiplos sistemas automáticos destinados a proteger os ocupantes em caso de colisão, para além das variadas ajudas electrónicas que visam permitir ao condutor ter melhor controlo sobre a viatura, particularmente em condições adversas.
Continuo, por isso, a não entender a razão porque os airbags laterais traseiros constituam sempre uma opção que encarece mais de 500 euros todas as versões ...
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