ENSAIO: Volvo S80 2.0 D3 163 CV Momentum

Um Volvo é… um Volvo! A verdade é que a afirmação soa algo redundante. Do mesmo modo pode parecer demasiado óbvio afirmar que quem adquire um carro deste segmento - e por este preço - espera (deseja) encontrar qualidade a todos os níveis. E classe. E prestígio. Ou pelo menos um automóvel capaz de os transmitir. Embora este texto tenda a começar repleto de lugares comuns e conclusões óbvias, perante a aquisição da Volvo por parte de uma construtora chinesa de automóveis, torna-se lógico perguntar até que ponto isso poderá afectar a sua imagem nos mercados ocidentais.

Apesar de 45 mil euros até nem parecerem muito para um carro deste nível e deste segmento no mercado português, mais a mais repleto de equipamento, a realidade é que, nesta categoria, jogam factores de prestígio e imagem de que muito poucas marcas conseguem orgulhar-se de ter atingindo num patamar tão exigente.
A Volvo pertence a esse grupo restrito, cimentado por muitos anos de qualidade, distinção, sobriedade e segurança. Ao longo do tempo construiu uma imagem de marca sólida, oscilando entre criações mais sóbrias e outras com um carácter jovem e mais arrojado. Mesmo depois da Volvo Cars (porque a “Volvo” também produz camiões, autocarros, equipamento marítimo e aeronáutico e desenvolve actividades nas áreas financeiras e construção, por exemplo) “perder” parte da sua autonomia e passar a fazer parte do grupo Ford, a marca sueca manteve produtos diferenciados, pese embora a inevitável partilha de componentes, principalmente mecânicos.
Até que, em 2010, o gigante americano anunciou a sua venda ao fabricante de automóveis chinês Zhejiang Geely.

Que ameaça?

Embora esta nova realidade possa levar muitos consumidores a encararem com pessimismo o futuro dos automóveis Volvo, como constatei ao longo dos dias do ensaio ao Volvo S80, a realidade é aparentemente muito mais simples e benéfica para o construtor sueco: os chineses dispõem do capital necessário para viabilizarem a sua continuidade, e ninguém com bom senso está a ver um investidor desperdiçar dinheiro a arruinar uma marca de prestígio produzindo maus produtos. Bem pelo contrário; os chineses já fabricam veículos e só não entraram em força no mercado ocidental em força – como os japoneses e coreanos já o fizeram – porque não dispõem ainda de carros que ofereçam qualidade e segurança capazes de satisfazer os exigentes padrões europeus. Para além de muitos deles também não respeitarem as actuais normas ambientais.
Assim se entende o facto de, um ano depois, a administração da Volvo e da Geely anunciarem um ambicioso plano que implica avultados investimentos e contratação de novos colaboradores, redefinindo estratégias de mercado e propondo tornar a marca sueca num fabricante de automóveis verdadeiramente luxuosos. O objectivo é não apenas conseguir uma maior penetração nos mercados europeus e americano, como também concorrer com nomes sonantes e de prestígio como a BMW ou a Mercedes nos ditos mercados emergentes, China naturalmente incluída, onde instalará uma nova actividade produtiva.

Berlina de topo

Até isso acontecer, o Volvo S80 é a berlina de luxo, o topo-de-gama da Volvo na Europa, disputando espaço e mercado com modelos como o Mercedes Classe E, por exemplo. O que, como se depreende, não é tarefa fácil.
Para começar, voltando à parte inicial deste texto, valores a partir de 45 mil euros para uma unidade diesel desembaraçada e competente, contudo económica (é preciso não esquecer que, com quase cinco metros, o S80 pesa mais de 1600 kg), com bastante equipamento e uma qualidade de construção elevada, fazem dele um modelo aliciante para fins particulares mas também executivos.
E o que tem o S80 a mais para oferecer face aos seus rivais? Comecemos pelas contrariedades.

Boa relação qualidade/preço

O Volvo S80 é, na essência, um modelo surgido em 2006. Actualizações estéticas posteriores têm permitido rejuvenescer uma linha que, apesar de distinta, acusa o peso da idade. É verdade que neste segmento a sobriedade ainda é um trunfo e nesse aspecto o S80 está mais do que actual. Aliás: impõe classe, impõe estilo e impõe, principalmente, respeito à sua passagem. Para tal conta com o tamanho e um ar meio discreto, mas também com o facto de respirar qualidade. Que verdadeiramente se “respira” porque os estofos são de couro e as aplicações podem ser em madeira, ou em alumínio, caso se pretenda um aspecto mais dinâmico. Mas também se “respira” quando se toca nos revestimentos suaves e se descobrem plásticos de boa qualidade, alcatifas volumosas e bancos que sabem envolver o corpo.
O que quase desculpa o facto de, apesar do seu tamanho, o S80 não ser um carro tão amplo quanto seria de supor. Atrás fica aquém de muitos familiares de segmento inferior e até mesmo na capacidade da mala, inferior a 500 litros. A boca da mala é estreita, mas o sistema de articulação da tampa da mala dispensa as intrusivas dobradiças em arco. Não existe pneu suplente, apenas “kit” anti-furo.

Funções executivas

Realmente, apesar de todas as potencialidades familiares, o S80 não o consegue ser na plenitude. Claro que desempenhará sem dificuldade esse papel, embora se mostre bastante mais à vontade para fins executivos, ou outras que não revelem demasiadas exigências de espaço.
A suspensão da versão ensaiada mostrou-se eficaz a absorver as irregularidades, sem que esse conforto tivesse beliscado o desempenho dinâmico da unidade. O S80 D3 descreve curvas com a segurança e a versatilidade esperadas face ao seu tamanho, adornando ligeiramente, embora sem intimidar o condutor. É que apesar dos 163 cv revelarem resposta rápida, beneficiando do bom escalonamento da caixa de seis velocidades, esta não é a unidade desportiva desta versão. A função fica reservada para o nível de equipamento “R-Design” (mais cerca de 750 euros), com chassis rebaixado.
No interior está tudo à mão do condutor e sugere funcionamento quase intuitivo. Clássico e sóbrio como convém, o tablier foi uma das partes que beneficiou do rejuvenescimento, não só com o fito de o modernizar, como de permitir a introdução de mais algum equipamento. De igual modo, o volante surge agora com um aspecto mais desportivo.

Que motor!

A questão fulcral que se coloca num modelo deste segmento, e com estas responsabilidades, é qual será a motorização a partir do qual o conjunto poderá mostrar-se competente e, simultaneamente, por via da cilindrada, capaz de manter um preço competitivo em mercados como o nosso.
É que em alguns países o motor de entrada na gama é apenas o D5 2.4 com 205 cv, que em Portugal custa quase 60 mil euros...
A denominada versão D3 utiliza uma unidade motriz presente noutros modelos da marca, nomeadamente no novíssimo S/V60 (ver AQUI). Trata-se de um motor com 5 cilindros, derivado exactamente do D5 acima referido. Esse facto garante-lhe um funcionamento menos esforçado, com binário a chegar logo às 1400 rpm. No final do ensaio o computador de bordo assinalava uns surpreendentes 5,5 litros, realizados durante uma condução completamente mista, embora propositadamente defensiva.
Qualquer das versões pode ser enriquecida pelos habituais equipamentos de segurança – avisos para a presença de obstáculos no ângulo morto dos respectivos espelhos, sinais sonoros da transposição involuntária das linhas do pavimento ou indicadores visuais da aproximação ao veículo da frente -, alguns disponibilizados de série mas outros inseridos em “packs” específicos, consoante as versões.


Dados mais importantes
Preços desde
44500 euros
Motor
1984 cc, 5 cil/20 V, 163 cv às 2900rpm, 400 Nm das 1400 às 2850 rpm, common rail, turbo, geometria variável, intercooler
Prestações
215 km/h, 9,7 seg. (0/100 km/h)
Consumos (médio/estrada/cidade)
5,3 / 4,3 / 7,1 litros
Emissões Poluentes (CO2)
139 gr/km


Este é um dos primeiros resultados da ligação chinesa à sueca Volvo. O S80L é uma versão especificamente direccionada ao mercado chinês, ligeiramente maior (+ 14 cm) do que a versão europeia, ricamente equipado e dotado de uma motorização com 6 cilindros, de 3.0l e 285 cv. O objectivo é, claro, conquistar a crescente elite deste mercado emergente, mas também servir frotas governamentais. Não dispensa todos os acessórios de segurança possível e oferece níveis de garantia e assistência até agora pouco comuns na China.


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