ENSAIO: Nissan Micra 1.2/80 cv

Devo confessar que a minha empatia com este carro foi quase imediata. Abri-lhe a porta sem chave, sentei-me ao seu volante, carreguei no botão que liga a ignição e arranquei. O motor respondeu num ápice, mostrando o escalonamento curto das relações iniciais da caixa de cinco velocidades. Os pneus já aquecidos pelo sol chiaram na primeira curva, em protesto contra a minha impetuosidade. Depois passámos assim os dias: eu a tentar desencaminhá-lo, ele a mostrar-se sempre bem comportado. No final, nenhum dos dois conseguiu levar a melhor sobre o outro.

A tendência da procura é sempre para cores mais sóbrias,
mas o Micra evidencia-se e torna-se muito mais alegre
em tons de carroçaria mais vivos
Quando se espreita o novo Nissan Micra pela primeira vez, pode não se ficar muito impressionado com o seu interior. Não apenas devido à profusão de plástico, mas também por continuar a não ser aquele que oferece mais espaço. Nomeadamente nos lugares traseiros ou na mala, apesar desta ter crescido até aos 265 litros.
Além disso, apesar de esta nova geração apresentar linhas mais discretas, ainda assim, elas continuam a não gerar consenso amplo e imediato.
Mas após muitos anos a ensaiar carros, já não causa grande surpresa descobrir que as melhores sensações são as provocadas pelos que, à partida, não geraram qualquer expectativa especial. E é exactamente por causa desse inesperado, que a descrição inicial corresponde fielmente à primeira impressão que tive da nova geração daquele que foi, em 1993, o primeiro automóvel japonês a vencer o troféu “Carro do Ano” na Europa.


Muito mais equipamento


Dificilmente há carros perfeitos ou sequer capazes de agradarem a toda a gente. Ainda por cima num segmento como este, dos utilitários, em que se procura sempre mais por menos dinheiro.
Por isso, um dos primeiros factores de atracção é o design. Ele tem que ser capaz de cativar, mas também de se diferenciar dos demais. Ora se neste último aspecto o Micra sempre o conseguiu nas duas gerações anteriores, já no capitulo de agradar a gostos mais conservadores... não foi bem assim.
Agora ficou mais consensual, é bem verdade, apesar de aqui e ali resvalar, felizmente, para a irreverência. Tem o privilégio de estrear uma nova plataforma da Aliança Renault/Nissan que servirá também ao futuro Clio.
Na realidade, quem aprecia o “design” vai facilmente continuar a deixar-se seduzir pela irreverência das formas e do jogo de cores interiores se for o caso. Neste aspecto, a tradição Micra ainda é o que era. A mesma aposta não parece ter sido feita na qualidade dos plásticos, apesar de, por tradição, saber-se que os produtos da Nissan não costumam resvalar no que toca a longevidade ou solidez. Mas quer à vista, quer ao toque, parecem deixar a desejar. Mais ainda quando se escuta o som que provém da tampa do porta-luvas superior a fechar.
Sim. Porque existem dois. Se em matéria de habitabilidade este novo Micra não é dos melhores (nem dos piores) a disponibilizar espaço, já em soluções de aproveitamento para a colocação de pequenos objectos reclama créditos.
Tal como o faz em termos de equipamento disponibilizado, quer de série, quer no lote de opcionais. Quem não dispensa a tecnologia ou o conforto em viagem, pode bem contentar-se plenamente com o lote vasto que o modelo oferece: porta USB, ar condicionado automático, aquecimento dos bancos, sistema de navegação, avançado sistema de som com comandos no volante, botão “start” em vez de chave e abertura sem chave das portas, tejadilho panorâmico, sensores para muita coisa incluindo luz e chuva e por aí em diante...
Há também os itens habituais de segurança, bem como as diversas ajudas à condução. Como é o caso, pasme-se face a dimensões tão reduzidas, de sensores que ajudam a descobrir o melhor lugar para estacionar! Além dos típicos “pi-pis” que servem como alertas de proximidade durante as manobras.


Condução bastante divertida


Mas onde este Micra conseguiu verdadeiramente satisfazer-me foi em matéria de condução. Por causa da envolvência que senti ao integrar-me perfeitamente com um conjunto que proporciona boa visibilidade e noção rápida das extremidades. O que, de certa forma, e passe algum exagero, me fez retornar aos pequenos “minis” que rechearam a adolescência de muitos de nós.
Obviamente que com muito mais segurança, com muito mais precisão e com muito mais conforto. Nos limites do aceitável, sempre que o provoquei os desvios da trajectória foram mínimos, em parte por acção das ajudas electrónicas, noutra parte pelo equilíbrio evidenciado por este chassis.
Mas a impulsividade do comportamento deste pequeno carro, uma irreverência que em rigor não consigo explicar e o seu carácter contagiaram-me. O motor do Micra responde bem a arrancar e, porque o conjunto está mais leve, isso confere-lhe uma extraordinária agilidade em ambiente urbano. Claro que em estrada, a partir de determinadas velocidades e quando tem que enfrentar lombas, evidenciam-se as limitações deste tri-cilíndrico com 80 cavalos.
Sobretudo quando o ar-condicionado está ligado e portanto há que o desligar para obter um ganho extra de energia. É que, a partir da terceira mudança, as relações da caixa alongam-se para não esforçar o motor, para lhe reduzir o ruído e, principalmente, para lhe baixar os consumos. A média final do ensaio, com predominância de cidade, quedou-se em torno dos 7 litros.
Porque a minha vontade foi sempre a de andar a “picá-lo”.



Dados mais importantes
Preços da versão Visiadesde 11 990 a 16 490 euros  (*) 
Motor
1198 cc, 3 cil., 12 V, 80 cv às 6000rpm, 110 Nm às 4000 rpm
Prestações
170 km/h, 13,7 seg. (0/100 km/h)
Consumos (médio/estrada/cidade)
5,0 / 4,3 / 6,1 litros
Emissões Poluentes (CO2)115 gr/km

(*) acrescem despesas de documentação, transporte e 
pintura metalizada (300€)


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