No frenesi de reduzir consumos e emissões para obter vantagens fiscais, quem ganha é o consumidor. Melhorando o seu desempenho a todos os níveis, a Nissan equipou o pequeno Micra com uma versão revolucionária do motor 1.2 a gasolina, de 3 cilindros. Graças à optimização da gestão do motor, aumentando a sua compressão e melhorando a injecção, sobrealimentando-a, este motor consegue atingir uma das emissões de CO2 mais baixas de qualquer motor a gasolina: apenas 95 g/km. Um aviso aos leitores: o texto que se segue é mais técnico do que é habitual, mas se realmente quer perceber como a Nissan conseguiu revolucionar o pequeno Micra vai ter de o ler até ao final.
Com 98 CV, mais 18 do que a versão “convencional”, o Micra DIG-S consegue um binário de 142 Nm, ao nível de um motor 1.5. Juntamente com o sistema Start/Stop e um dispositivo regenerador de energia, o consumo médio é de 4,1 litros. Esta versão é vendida a partir de pouco mais de 14 mil euros.
Os ganhos no rendimento deste motor são realmente notáveis. O Micra de 80 cavalos já oferecia um comportamento bastante agradável (ver AQUI o resultado desse ensaio) e, na realidade, houve ganhos visíveis de eficiência com esta versão.
Para começar, ganhos na economia, ainda que, em boa verdade, se a tentação de andar mais rápido prevalecer, isso acabe por não se notar. Porque este Micra anda mais e, sobretudo, acelera melhor, com um binário mais elevado e disponível mais cedo.
E afinal como foi tudo isto possível?
Um Miller sobrealimentado
A inovação técnica incorporada neste motor e que garantiu tais ganhos, reside na utilização do “ciclo Miller”, associado à injecção directa de gasolina, daqui resultando um aumento compressão interna do motor.
Para os mais leigos, e na tentativa de explicar de uma forma simples, aquilo que faz um carro a gasolina andar é, logicamente, a acção do motor. Dentro desse motor existem êmbolos, cilindros (neste caso 3), que se movimentam, também habitualmente, no sentido vertical. A movimentação concertada entre eles é que gera movimento, energia que é transmitida às rodas.
Para provocar esse movimento, a gasolina é injectada na cavidade que se gera na cavidade superior onde se movimenta cada um dos êmbolos. Atingida determinada compressão, essa gasolina explode, por acção de uma vela que gera faísca em determinado momento, e empurra o cilindro na direcção contrária.
Este modo de funcionamento de um motor é o chamado ciclo Otto. A diferença que o ciclo Miller introduz é o aumento dessa fase de expansão, ampliando o tempo e a distância para a queima dos gases provenientes dessa pequena explosão.
Uma vez que o motor não alterou o seu tamanho, prolongado o percurso vertical de cada cilindro, o modo de conseguir isso foi fazer o cilindro “subir” mais dentro do motor, quando vai na sua fase ascendente. Isso provoca o aumento da chamada “taxa de compressão” e, logicamente, como sobe mais, também tem mais percurso para descer!
A segunda fase foi garantir a eficácia desse aumento da compressão. E porquê? Porque grande parte da gasolina que geralmente é injectada para dentro do motor, simplesmente é desperdiçada. Trinta a quarenta por cento dela é que realmente é aproveitada. Para contornar esta questão, esta versão do motor 1.2 do Micra recorreu à injecção directa de combustível, a alta pressão, o que significa que ela é literalmente borrifada para dentro do motor para mais rapidamente se transformar em gás inflamável. E quanto mais gás e menos líquido for o combustível, maior é o poder de combustão e menor é o seu desperdício após a sua queima.
Motores a gasolina irão ganhar?
Até há bem pouco tempo, a razão principal do sucesso dos motores diesel residia no preço mais baixo deste combustível e nos consumos mais baixos, conseguidos através de um melhor rendimento do motor.
Contudo, o poder energético da gasolina é bastante superior ao do gasóleo, uma vez que é mais inflamável. E como nos postos de combustível o preço do gasóleo se aproxima cada vez mais do da gasolina, é fácil perceber que o ciclo do mercado se irá inverter nos próximos anos, graças à utilização de tecnologia como a deste Micra utiliza.
Na essência, o funcionamento de um motor de combustão a gasolina não se alterou desde a sua criação há mais de 100 anos. O que melhorou foi o seu rendimento e isso só é possível graças ao uso intensivo da electrónica, que aumentou a precisão em fases importantes do seu funcionamento, como o modo e a pressão da injecção de combustível e consequente combustão. Naturalmente, também, pelo uso de novas ligas metálicas, mais leves e mais resistentes, que possibilitam o aumento do poder de explosão dentro de um motor.
É a combinação de vários destes factores (maior rendimento mecânico, menor atrito, menor peso) que, combinado com o aumento da eficácia aerodinâmica, permitem a redução substancial dos consumos.
Tudo isto com a ajuda de outros dispositivos que permitem ganhos adicionais em eficiência, graças à adopção de sistemas avançados de gestão do motor com Start/Stop (Arranque/Paragem) e regeneração de energia.
Tecnologia mais dispensiosa
Esta é uma explicação simples do modo como foi possível aumentar o rendimento do motor. Na realidade, para ser possível a conjugação destes factores, existem vários pormenores que encarecem esta tecnologia mas que, simultaneamente, abrem novas perspectivas para o futuro dos motores a gasolina.
É que, ao contrário dos motores a gasóleo, não existe uma emissão tão elevada de partículas nocivas (quando existe), dispensando o uso de caros e complexos catalisadores.
Por outro lado, um dos obstáculos que até aqui se colocava com o aumento da compressão (e de explosão) dentro de um motor, a fiabilidade e o ruído de funcionamento, melhoram com o uso de novos materiais.
A necessidade de reduzir consumos e consequentes emissões, abre espaço para o desenvolvimento de tecnologias associadas, como o Start/Stop da Nissan que desliga o motor ao ralenti. Em conjunto com uma bateria e motor de arranque de alto desempenho, o sistema demora apenas 0,4 segundos a voltar a ligar o motor depois de desligado (CVT).
A regeneração de energia por desaceleração através do alternador ajuda a recarregar a bateria para que possa ser utilizada para o fornecimento directo de energia em itens eléctricos complementares, reduzindo deste modo a carga no motor.
DIGa 95 g/Km…
O resultado prático disto é um automóvel com quase 100 cv num pequeno motor de 1198 cc, que produz 142 Nm e tem emissões de CO2 de apenas 95 g/km para a versão manual e de 115 g/km para a versão CVT. A velocidade máxima é 180 km/h com transmissão manual e, em ciclo combinado com transmissão manual gasta 4,1 l/100 km/h.
Mas num carro tão evoluído como esta versão do Micra deseja ser, não poderiam deixar de estar presentes mais novidades importantes neste segmento, como a funcionalidade de Assistência ao Estacionamento (PSM) que, como o nome indica, mede potenciais lugares de estacionamento e informa o condutor se o espaço é suficiente para que o automóvel caiba. Este equipamento é de série na versão Tekna.
Os baixos custos de funcionamento são garantidos não só pela excepcional economia de combustível, mas também graças aos benefícios fiscais baseados nas suas emissões, concedidos em vários países europeus e às facturas de manutenção mais leves de um motor mais pequeno.
A única diferença externa que esta versão mais recente possui é um deflector do tejadilho prolongado que, em conjunto com um subtil deflector na dianteira reduz o coeficiente de atrito de 0,33 para 0,29. Interiormente parece ter ganho maior qualidade de materiais, uma impressão acentuada apenas pela escolha de cores claras da viatura ensaiada, pintada de um ecológico branco virginal.
Todas as versões possuem direcção assistida, vidros eléctricos dianteiros, seis airbags (condutor, passageiro dianteiro, airbags laterais e cortinas insufláveis) e o Programa de Estabilidade Electrónica (ESP) de série. O ar condicionado manual ou automático também é de série em todas as versões, excepto na versão base Visia aspirada.
Aparte a maior capacidade de aceleração, não difere praticamente nada em relação ao Micra de 80 cv, cujo ensaio pode ser apreciado NESTE texto.
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