ANÁLISE: Há petróleo em Portugal?

Numa célebre rábula teatral Raul Solnado brincava com a existência de petróleo no quintal da sua casa no Beato. Na realidade é certa a existência de vastos lençóis de ouro negro ao largo da costa portuguesa. E mesmo enquanto tudo não passa de uma mera possibilidade, Portugal lucra com os direitos de prospecção. Poderá o nosso país ser o Kuwait da Europa? Graças a isto poderemos um dia almejar ter os combustíveis ao preço da… água?
Exista ou não petróleo em Portugal, as finanças portuguesas já arrecadam anualmente muitos milhões de euros com os direitos de prospecção e os impostos devidos pela importação de tecnologia para levar a cabo as explorações e até mesmo na componente salarial dos trabalhadores envolvidos.
Para se ter uma ideia dos valores em causa, o consórcio luso-brasileiro formado pela Petrobras, Galp e Partex, que procura petróleo ao largo da costa de Peniche, canalizou 400 milhões de euros apenas para as perfurações exploratórias. Se a isto somarmos 300 milhões de investimentos em idênticas prospecções ao largo da costa vicentina, outras quantias da mesma ordem para concessões "onshore" da área do Cabo Mondego até Torres Vedras e no Sotavento algarvio, conclui-se que, desde 2007, Portugal lucrou para cima de mil milhões de euros.
Sem ter exportado ou sequer produzido um único barril de crude!

Portugal pode ser auto-suficiente em petróleo

As reservas de petróleo e de gás existentes podem tornar Portugal um país auto-suficiente durante largos anos e representariam uma poupança anual superior a mil milhões de euros. Reforçaria ainda a sua importância estratégica na Europa, uma vez que o continente europeu depende fortemente de fornecedores externos para garantir os seus gastos energéticos.
Numa conferência petrolífera ocorrida na Fundação Calouste Gulbenkian, Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da Galp Energia, afirmou que "aproximadamente 50% do potencial crescimento das reservas petrolíferas do mundo está nas margens do Atlântico". Idêntica convicção tem a petrolífera brasileira Petrobrás que, para além das explorações ao largo de Peniche, adquiriu os direitos para a costa alentejana e prevê abrir o primeiro poço na bacia de Peniche mal se concluam os necessários estudos sísmicos.

Pesquisas remontam ao século passado

A pesquisa de petróleo em Portugal remota a inícios do século passado, embora efectuada em águas pouco profundas e sem grande intensidade.
Em 1938, vésperas da II Grande Guerra, são emitidos alvarás para exploração na Bacia Lusitana mas, até 2006, apesar de alguns indícios apontarem para existência de óleo e gás, a viabilidade económica da sua exploração não parecia convencer os investidores.
O disparar do preço do ouro negro nos mercados internacionais e o perigo de uma grave crise energética devido à instabilidade política dos maiores produtores mundiais, veio dar uma nova importância às quase certas jazidas que existem nas costas portuguesas.
Segundo um documento elaborado pela Direcção Geral de Geologia e Energia, entidade oficial sob a tutela do Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento a quem compete gerir a pesquisa e a exploração de petróleo no nosso País, "em 2007 houve um significativo incremento da prospecção", "com a assinatura de 12 novos contratos de concessão".
Em caso de existência de petróleo, o Estado português garante 7 por cento do valor de cada barril de crude produzido, para além dos valores das rendas de exploração das áreas e dos valores dos impostos sobre os lucros e das taxas municipais.
Sem esquecer que duas das empresas envolvidas na exploração,  embora com posições minoritárias, são portuguesas.

Onde estão o crude e o gás?

A pesquisa petrolífera divide-se em "onshore" (em terra), offshore" (no mar em águas menos profundas até 200 metros da costa) e "deep-offshore" (para distâncias superiores).
Um exemplo de campo “onshore” é o contrato da concessão de uma área a norte do distrito de Lisboa, zona de Alcobaça, assinado com a canadiana Mohave Oil Gas. O madeirense Joe Berardo adquiriu uma significativa participação nesta empresa, após ela ter declarado ter encontrado reservas superiores a 500 milhões de barris de crude, com valor superior a 25 mil milhões de euros.
Mais recentemente foi a vez da Galp Energia estabelecer uma joint-venture para a exploração dos recursos, o que parece provar as boas perspectivas da existência de petróleo e gás no subsolo.
Em relação à pesquisa no mar - para melhor compreensão dos mapa elaborados pela Divisão para a Pesquisa e Exploração de Petróleo, departamento afecto à Direcção Geral de Energia e Geologia - as áreas de exploração "deep-ofshore" recebem a designação de um marisco enquanto as "shallow offshore" a de um peixe.

Portugal dividido e leiloado

Para a prospecção de petróleo, o território foi dividido em blocos e a concessão das respectivas áreas é sujeita a leilão. Após adjudicação são feitas sondagens através de análises sísmicas, da cobertura do solo e através da abertura de pequenos furos exploratórios. A evolução da electrónica e dos instrumentos de análise tem permitido que a pesquisa se faça de um modo mais rápido e menos evasivo para a crosta terrestre, permitindo ainda aferir com maior grau de fiabilidade a quantidade das reservas escondidas no subsolo.
Contudo, não basta encontrar petróleo em quantidade suficiente, também é necessário garantir a existência de condições para o extrair com eficácia e segurança.
Este é exactamente um dos aspectos em que a geologia portuguesa torna tão difícil a extracção. Desenvolvimentos recentes criaram uma nova técnica de exploração designada “Horizontal Drilling”, que permite a abertura e exploração diagonal de poços de petróleo, tornando mais acessíveis reservas que até aqui não eram exploráveis.
Como as que existem em Portugal.


N.B.: Este trabalho foi realizado em 2010 para o "Jornal o Diabo", tendo dele sido publicado apenas uma parte. Daí que alguns dados remontem a 2007, os únicos disponíveis na altura da produção do texto. Foi somente feita uma pequena actualização no que se refere à prospecção na zona de Alcobaça. Cabe agradecer à Divisão para a Pesquisa e Exploração de Petróleo as informações que prestou e que muito ajudaram na compreensão desta matéria, realçando ainda o brilhante trabalho deste organismo na execução do seu site, cujo link é ESTÁ AQUI.

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