ANÁLISE: Fim da Era do Jurássico automóvel em Cuba?

Pode representar o fim de um paraíso para os amantes dos grandes clássicos automóveis americanos de meados do século passado. Desde 3 de Janeiro de 2014 a venda de automóveis é livre, pondo fim a 50 anos de restrições à importação de veículos que o regime comunista estabeleceu após a conquista do poder. A venda livre de veículos, um dos sonhos da população cubana, foi anunciada oficialmente pelo governo de Havana a 19 de Dezembro. Mas os preços dos novos veículos são astronómicos. A título de exemplo, um Peugeot 4008, novo, custa mais de 200 mil dólares. Face a um salário médio mensal de 20 dólares, os cubanos sentem-se enganados: "como é que um funcionário público, que vive do seu salário, pode pagar um carro com estes preços? Mesmo que lhe emprestem dinheiro a reembolsar em 40 anos, vamos ver se pode comprar um”, comentou um habitante da ilha.

Durante décadas Cuba caracterizou-se por uma pobreza que contrastava com as faustosas linhas de grandes e outrora luxuosos modelos clássicos americanos, ciosamente preservados por representarem a única possibilidade de possuir um automóvel na ilha.
A excepção foram naturalmente modelos provenientes do ex-bloco soviético, mais recentemente alguns veículos chineses e ou outro modelo ocidental.
Mas esta peculiar estética do tráfego automóvel na ilha deverá revolucionar-se e modernizar-se nos próximos tempos. É que a liberalização do comércio automóvel, anunciada pelo governo de Raul Castro em Dezembro, entrou em vigor no início de 2014, abrindo a porta à livre importação de veículos novos ou usados.
O comércio automóvel passa assim a ser possível entre todos os cubanos sem necessidade de autorização prévia. Como referência de preço, mantêm-se os valores de mercado estabelecidos em Outubro de 2011, quando foi implementada a permissão, sob autorização prévia, da transferência de propriedade entre cidadãos cubanos para veículos em segunda mão.
A abertura total do mercado automóvel é vista com bons olhos pelos cubanos. Satisfeitos estão os motoristas de táxis que vêm os seus carros obsoletos a piorar de dia para dia. "Estão a desfazer-se", conclui um motorista de praça de Havana. "Somos taxistas, mas os nossos carros estão em muito mau estado”, admitiu.
Mesmo assim há um senão: face aos valores que começam a surgir, como vai a classe média conseguir comprar um carro novo com o nível salarial que é praticado?
A resposta é simples e a solução não deverá surgir para já. A exemplo do que já aconteceu com outros países (veja-se o caso da China, por exemplo), a crescente abertura do mercado cubano irá levar gradualmente empresas americanas a estabelecerem-se na ilha, atraídas pela mão-de-obra barata e pela proximidade aos Estados Unidos.
É claro que Cuba não oferece as mesmas condições da China, por exemplo. Não tem dimensão de território nem população em número suficiente para alimentar grandes centros industriais.
Tem, em contrapartida, uma população com um nível de formação relativamente alto, que poderá ajudar ao estabelecimento de empresas de cariz mais tecnológico do que industrial e óptimas condições para o crescimento do Turismo.
Joga ainda a seu favor uma endinheirada classe cubana a residir nos Estados Unidos que deseja acabar com o regime comunista.
E que melhor maneira de o fazer do que estabelecer uma economia de mercado, criar uma classe burguesa e liberalizar a economia.
Enfim, estabelecer o capitalismo.
Para já, com os impostos provenientes do comércio automóvel, o governo de Raul Castro pretende criar um fundo especial com o propósito de investir na melhoria da rede de transportes públicos em Cuba.


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