ENSAIO: Citroën C4 Cactus 1.6 eHdi 90 ETG6 e 1.2 VTi 82 Puretech

Podemos gostar ou não gostar de certos carros. Temos esse direito.

Mas a alguns é difícil ficar indiferente, quer a opinião seja positiva, quer ela seja negativa.

No caso do Cactus isso é mais do que verdade.

Num primeiro instante parece até ter sido construído para um filme de ficção científica. Só que é bem real e já rola nas nossas estradas.

Diferente, ousado e divertido de conduzir. Equipado para a selva urbana. Defendido dos perigos da cidade.


Não são ainda muitos os que por aí andam e dificilmente a sua silhueta se massificará.

O que é bom por um lado (para quem deseja essa individualidade), menos bom por outro, nomeadamente para a Citroen que, enquanto fábrica, deseja ganhar muito dinheiro com ele.

Apesar de tudo a procura supera as expectativas e a produção foi por isso aumentada. O que é sinal que, afinal, há um tipo de consumidor ávido de novidade e capaz de acolher a diferença.

Tem ainda uma outra vantagem para o construtor: não é um carro de grandes custos, como se verá mais adiante.

Gostar, desejar. E ter naturalmente


Como afirmava um colega de profissão, eu também já gostava dele antes de o conduzir.

Só e apenas (perdoem-me o entusiasmo do reforço) pela ousadia deste carro querer ser diferente.

E o prazer que pressentia aumentou depois de o conduzir, porque à simplicidade com que se apresenta corresponde uma eficácia inesperada.


Antes de mais, torna-se complicado enquadrá-lo.

Não é um carro familiar porque lhe faltam algumas premissas de espaço e conforto. Esqueçam ainda a esbatida ideia de uma “suspensão Citroën”!

Mas, na verdade, pode servir enquanto tal, pelo menos para uma família pequena e sem grandes exigências de espaço de mala para saídas mais prolongadas.

Não sendo portanto um familiar, pode afinal servir enquanto tal.

Também não é um coupé desportivo. E não é por ter portas traseiras, apesar dos respectivos vidros só abrirem em compasso e não correrem para baixo; mas falta-lhe a silhueta e falta-lhe ainda mais qualquer coisa que não sei definir.

Por isso, não um coupé. Mas pode ser.

Podendo ser o que se quiser fazer dele, a definição mais exacta, provavelmente mesmo aquela que melhor se lhe adapta, talvez seja a de “crossover”. Crossover compacto, pequeno SUV urbano, definições e siglas que servem para dizer que tem um pouco mais de altura em relação ao solo e determinadas protecções, neste caso na carroçaria.

Almofadas de ar

São exactamente algumas dessas protecções que o diferenciam. Chamam-se “airpumps” e são telas em plástico aborrachado, com bolsas de ar que servem para defender a chapa e a pintura da carroçaria em zonas tradicionalmente mais expostas aos perigos dos pequenos acidentes urbanos.

Como aqueles pequenos toques no pára/arranca dos cruzamentos, durante aberturas desprevenidas de portas alheias e todo o tipo de mazelas que resultam das manobras de estacionamentos mais “apertadas”.

É que a designação Cactus vem exactamente do nome da planta. Uma planta habituada a (sobre)viver em ambientes hostis. E as defesas do Cactus ao ambiente hostil que é a cidade são estas "almofadas de ar" laterais e as protecções amoviveis à frente e atrás.

Além de defesa, conjugados com a multiplicidade de cores de carroçaria, os “airpumps” servem também para personalizar o Cactus. Existem várias combinações possíveis para emparelhar com outras tantas de interior.

IMPORTA LER SE QUISER SABER MAIS:
APRESENTAÇÃO: Citroën C4 Cactus.
Preços e características.


Difícil, difícil pode ser afinal escolher a que se adapta mais à personalidade de quem o conduz. Mas certamente haverá uma que se adapte ao perfil de quem compra. Se não houver… conjugue-se!
Afinal, há gostos para tudo e para todos!

Diferente por fora e por dentro também


É muito fácil ficar envolvido pela atmosfera do habitáculo do Cactus.

Quando ele nos atrai por fora. Caso contrário haverá certamente quem encontre defeitos: a forma, a funcionalidade diferente, a qualidade dos materiais, o facto dos vidros traseiros só abrirem em compasso e outros pequenos contratempos de que se fala mais adiante.

Em sentido contrário, quem se deixou cativar pelo exterior, não ficará desiludido com o habitáculo do Cactus. Porque, se por fora ele é diferente, por dentro também tem muita coisa nova.

Naturalmente tem pedais e volante, manipulo das velocidades quando a caixa é manual e muitos comandos conhecidos.

Mas muitos outros, como os do rádio ou climatização, passaram para a consola central, reunidos num painel táctil de 7 polegadas que pode ter sistema de navegação e oferecer acesso à internet.

Mas não só; atrás do volante, o painel de instrumentos é também digital, simples, informativo e bastante legível durante a condução.

Esta “limpeza” de comandos, que está a generalizar-se a vários outros modelos do grupo PSA, tem os seus prós e os seus contras: é bonito em termos de design, tecnologicamente futurista e uma solução mais barata para o construtor.

Mas se o utilizador também beneficia das duas primeiras características, já a parte funcional levanta algumas dúvidas. Nem sempre se torna prático, durante a condução, alternar comandos entre climatização e rádio, por exemplo.

Não está disponível algum equipamento de assistência que vai sendo vulgar no segmento: faróis de xenon (apesar de tudo desnecessários porque os que tem iluminam bastante bem), estacionamento automático, alerta para viaturas no ângulo cego dos retrovisores ou travagem automática em associação ao controlo de velocidade de cruzeiro, por exemplo.

Contudo, tem o essencial: câmara de estacionamento traseiro (que não funciona convenientemente à noite), controlo automático de climatização, sistema de navegação, controlo de estabilidade, ligação Bluetooth ou através de entrada USB e até possibilidade de ligação à internet através do painel central.

Espaço e funcionalidade

O habitáculo do Cactus oferece mais para surpreender, agradar ou até mesmo fascinar quem já esteja rendido ao seu encanto: por exemplo, o porta-luvas com a aparência de uma mala de viagem antiga, que abre como tal.

Este aspecto de mala só seja mais evidente em determinados tipos de decoração interior. Por causa desta criação, outra inovação do Cactus é o airbag do passageiro, em caso de emergência, abrir a partir do tejadilho.

Nas versões com transmissão automática, o banco da frente parece corrido com três lugares. Parece apenas porque a parte central pode ser ocupada por um volumoso apoio de braços sem arrumação. O formato distinto do manípulo do travão de mão ajuda a que assim seja.

O espaço traseiro beneficia sobretudo pela forma corrida do banco. Não porque seja excepcionalmente largo ou porque ofereça muito espaço para as pernas, mas o piso liso e o assento corrido podem até facilitar a acomodação de três passageiros.

Nas versões com tejadilho panorâmico não existe cortina para proteger os ocupantes do sol. A Citroen tranquiliza e diz que o vidro é composto por várias camadas protectoras da radiação que pareceram funcionar durante os dias de ensaio.

Para poupar, o encosto do banco traseiro rebate por inteiro. Assim, os 358 litros de mala dão lugar aos quase 1200 anunciados pela marca. Inconvenientes óbvios: em primeiro lugar fica impossibilitado transportar pelo menos um ocupante no banco traseiro, em segundo não oferece uma superfície de transporte lisa.

Também na intenção de reduzir o supérfluo para diminuir custos, não há iluminação sobre os bancos traseiros.  No forro das portas e à frente, na consola central, existem pequenos espaços suficientes para depositar objectos pessoais como a carteira, o telemóvel ou as chaves.

E que tal agradar as senhoras?


Em grande medida por causa da surpresa provocada pelas suas formas irreverentes, mas também devido à facilidade com que se conduz, o Cactus é um carro de sucesso entre o público feminino.

Por isso, senhores da Citroën esqueçam um pouco a ideia do supérfluo e coloquem ao menos iluminação nos espelhos das palas do sol. E mesmo espelho do lado do passageiro.

Elas vão agradecer a atenção.

Esta ideia de dispensar o acessório tem uma razão de ser. Pelo menos o construtor assim a justifica: simplificar métodos de produção e reduzir materiais para diminuir custos, ajudando também a tornar mais leve o conjunto para melhorar a eficiência energética.

Peso ajuda nas motorizações


O Cactus parte de uma base um pouco mais alargada do Citroën DS3 e não da nova plataforma EMP2 que serve, entre outros, o novo C4 Picasso ou o Peugeot 308.

Isto e a preocupação em reduzir peso referida anteriormente contribuiu para uma selecção de motores pequenos (e leves) para o equipar.

Em prol de uma maior ligeireza do andamento e com a vontade de cortar nos gastos de combustível, pelo menos no modelo ensaiado - 1.6 HDi de 90 cv com caixa manual pilotada de seis velocidades - no final do ensaio, os modestos 5 litros de média de consumo, parecem estar aptos a cumprir esse objectivo.

Surpresa maior veio quando ensaiámos a versão a gasolina também disponível, o novo 1.2 PureTech com 82 cv associado a uma caixa manual de 5 velocidades: no final, o computador de bordo registava uma média inferior a 6 litros.

Torna-se importante frisar que, com qualquer um dos motores, o Cactus revela-se um conjunto com uma dinâmica bastante interessante. Longe de almejar ser um desportivo, a sua condução transmite confiança porque as suas reacções são bastante previsíveis e oferece estabilidade em velocidades mais elevadas. Diria que, embora não seja um carro que incentive a conduzir rápido, também não se furta a fazê-lo.

O que acontece com ambos os motores.

Fora o ruído do funcionamento e as diferenças naturais de arranque e de elasticidade, não se notam grandes diferenças dinâmicas entre as duas motorizações. Excepto num ponto: o Cactus a gasóleo testado tinha transmissão automática de seis velocidades (ETG6), com possibilidade de patilhas atrás do volante para comando sequencial.


Quem já conduziu outros modelos do grupo PSA não deverá estranhar a troca lenta e um pouco soluçante de uma caixa que, sendo na essência uma transmissão manual, é controlada (pilotada) electronicamente.

Mas o mais inovador foi a substituição do tradicional manípulo das velocidades por três simples botões colocados na consola para controlar o andamento: "D" para a frente, "R" para a marcha atrás e "N" para o chamado ponto morto. Depois de seleccionar a direcção pretendida é só acelerar e travar.

Por fim.

Talvez devido ao seu feitio de "crossover", coloquem de lado a ideia tradicional de conforto oferecido pela Citroen. O Cactus reage secamente às irregularidades do piso e os bancos dianteiros têm uma configuração que não reuniu unanimidade.


DADOS: 1.6 e-HDi ETG 6 velocidades
Preços desde
24.939 euros
Motores
1560 cc, 92 cv às 3750 rpm, 230 Nm às 1750 rpm, common rail, turbo intercooler
Prestações
182 km/h, 12,6 seg.(0/100 km/h)
Consumos (médio/estrada/cidade)
3,6 / 3,5 / 3,9 litros
Emissões Poluentes (CO2)
94 gr/km


DADOS: 1.2 VTi 82 Cx. manual 5 velocidades
Preços desde
20.738 euros
Motores
1199 cc, , 82 cv às 5750 rpm, 118 Nm às 2750 rpm, motor em liga de alumínio, injecção indirecta
Prestações
167   km/h, 12,9 seg.(0/100 km/h)
Consumos (médio/estrada/cidade)
4,6 / 4,0 / 5,6 litros
Emissões Poluentes (CO2)
107 gr/km


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