1978: Socialismo na gaveta, FMI em Portugal e reflexos no mercado automóvel. Na RTP a escrava chamava-se Isaura


Em 1978 o FMI estava pela primeira vez a Portugal. Os portugueses apertavam o cinto e Mário Soares colocava o socialismo na gaveta e aliava-se ao CDS para formar o II Governo Constitucional. Como se comportava o mercado automóvel há 23 anos e quanto custavam alguns dos carros mais populares?

(Imagem principal: Richard Lomas/www.tramsinportugal.blogspot.com)

Neste texto está um retrato do mercado automóvel em 1974, mais precisamente do mês de Abril, o ano da revolução em Portugal.

Por essa altura, 1974, um Mini 1000 custava sensivelmente 74 contos com sistema de aquecimento incluído, sendo preciso pagar cerca de mais seis contos para ter o mais moderno “Clubman”.

Já a carrinha Mini IMA, na versão mista (passageiros) mais “refinada”, ficava pelos 75 mil escudos, mais ou menos o valor de um Citroën Dyane ou um Renault 4.

Olhando para os modelos mais exclusivos do já então já complicado grupo automóvel inglês (BLMC, posteriormente apenas BL, British Leyland), um MGB equipado com “Overdrive”, relação de transmissão utilizada para velocidades mais elevadas durante trajetos mais longos, como uma viagem em autoestrada, andava à volta dos 125 contos, dependendo do tipo de capota.

Já o mais desportivo MGB GT, também com “Overdrive”, custava mais 14, 15 ou 16 mil escudos, dependendo do equipamento pretendido, sendo que a lista de opcionais incluía, por exemplo, encostos de cabeça para os bancos!


Por falar em modelos desportivos, quanto dinheiro era preciso para ter um Ford Capri com motor de 3,0 litros e tejadilho revestido em vinil negro? Mais de 200 contos, uma pequena fortuna só ao alcance de poucos portugueses, além de não ser propriamente muito popular nos anos mais quentes de 74/75 ostentar grandes sinais de riqueza. 

Recorde-se, o salário mínimo mensal fixado logo após a revolução situava-se nos 3.300 escudos.

Na hora do FMI

Três anos depois do 25 de Abril o estado das finanças públicas nacionais exigia a ação do Fundo Monetário Internacional.

Negociado em 1977, uns meses depois, já na vigência do II Governo Constitucional liderado por Mário Soares com o apoio de Freitas do Amaral (janeiro de 1978-agosto de 1978), os portugueses começaram a sentir os primeiros efeitos das medidas de austeridade impostas pelo FMI: cortes orçamentais, subida das taxas de juro, restrições ao crédito, desvalorização da moeda e aumentos salariais limitados em 20%, quase 7% abaixo da taxa de inflação registada em 1977.

No mesmo ano em que na madrugada de Sintra uma pedra decidiu a vitória do Rali de Portugal, Sá Carneiro recuperou a liderança do PSD (que formaria o VI Governo Constitucional em janeiro de 1980) e os portugueses acompanharam o drama da “Escrava Isaura”, depois de um namoro de meses com “Gabriela”, o mercado automóvel de automóveis ligeiros voltou a descer abaixo das 100 mil unidades, caindo mais de 28,5% face ao resultado obtido em 1977.

Quanto custavam os modelos mais populares da altura?


Em 1978, o carro mais barato era de novo um Fiat, o 126, e custava cerca de 120 contos, sensivelmente 600 euros.


O Mini 1000 havia subido para 165 contos e o Fiat 127 mais acessível já chegava aos 174 contos. Uns milhares de escudos a mais do que a célebre Citroën Dyane Nazaré, mas mais barato do que um Renault 4 ou de um Renault 5, que ultrapassava os 200 mil escudos.

Era o tempo das carrinhas. Beneficiando de uma fiscalidade mais favorável, uma carrinha Toyota Corolla podia ser mais barata do que a versão de três portas (240 contos vs 250 contos) e o mesmo sucedia com o Datsun 120Y (250 contos vs 284 contos, valores arredondados).


Em parte por isso a carrinha do Simca 1100 (240 euros) e o VW Brasilia (246 euros) eram dois dos modelos mais populares da época.

Sendo que, em 1978, o preço da gasolina com chumbo já havia triplicado de valor em relação a 1974 e custava 25/26 escudos por litro, enquanto o salário mínimo não tinha sequer duplicado, ao crescer de 3.300 escudos para um pouco menos de 5.700 escudos.

Dados: Pordata (www.pordata.pt), Revista "Qual Carro?", janeiro de 1978


Sem comentários